Quando o aquecimento de 1,5 °C do planeta deixa sua cidade até 7 °C mais quente

Executivo

3 de Fevereiro de 2025

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A tempestade bizarra que caiu em São Paulo na sexta-feira passada (24), um dia antes do aniversário da cidade, inundando estação de metrô, desabando teto de shopping e alagando ponto turístico –, evento que inaugurou o sistema de alerta da Defesa Civil – serviu como aquela lembrança incômoda de que a mudança do clima veio para ficar e ninguém está a salvo enquanto as cidades não se prepararem e se adaptarem para o pior. 

Um pior, aliás, que já parece se repetir mês a mês, para onde quer que a gente olhe. É essa a mensagem que passa também uma nota técnica recém-lançada por pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), que resume o estado do clima no Brasil no ano passado, o mais quente do registro histórico. O relatório, obtido com exclusividade pela coluna, mostra que os impactos sentidos no país em decorrência de o planeta ter ultrapassado, em média, 1,5 °C de aquecimento em 2024 se estenderam por todo o território, em diversos formatos e áreas.

Não foi outro dia que estávamos quase todos em São Paulo sem luz. E depois de novo, e de novo? Em 12 de outubro, uma tempestade, com ventos acima de 107 km/h, deixou 11 mortos, fechou os dois principais aeroportos da cidade e causou um apagão que deixou 2,1 milhões de pessoas sem energia na região metropolitana. No dia 23 de outubro, nova tempestade com ventos fortes deixou 72 mil pessoas sem energia elétrica. Entre 23 e 25 daquele mês, mais três pessoas morreram em decorrência desses eventos. Em 2 de novembro, 70 mil ficaram sem energia, descreve a nota técnica.

Cortesias de um planeta mais quente.

É normal ouvir gente questionando para que tanta preocupação com uma elevação aparentemente tão pequena do termômetro. A nota técnica do Cemaden deixa bem claro o que isso significa. Para ficar só no quesito temperatura, o aquecimento de 1,5 °C da Terra significou ondas de calor que trouxeram temperaturas de 7 °C acima do normal em cidades como Belo Horizonte e Brasília, de 6 °C em Manaus (imagina um lugar quente ficando muito mais quente). No dia 23 de setembro, Cuiabá registrou 43,1 °C.

Os impactos foram muito além do calorão. O ano, que ficou mais marcado pela tragédia das inundações no Rio Grande do Sul e pelas queimadas e seca que atingiram a Amazônia e o Pantanal, teve desastres e alterações do começo ao fim, de um extremo ao outro, como prega o manual do aquecimento global.

Teve ondas de calor em série – mas também algumas de frio (apesar de o inverno ter sido o segundo mais quente desde 1961); teve enchentes, deslizamentos de terra e secas de norte a sul, de leste a oeste; rios chegando ao menor nível dos registros históricos; prejuízos que vão da perda agrícola à de infraestrutura, ao transporte que encareceu, ao abalo no abastecimento de energia (que também ficou mais caro), a escolas fechadas, com impacto direto na educação e na saúde mental. E, claro, perda de vidas.

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